Primeiramente,
queremos nos desculpar pela demora. Estávamos buscando sobre novos assuntos,
novas matérias e novas abordagens. Agora, conforme formos tendo acesso a novos
conteúdos, vamos postar mais matérias.
Haja vista que já postamos sobre
alguns assuntos introdutórios à Umbanda, tais quais os orixás, a importância do
conhecimento, e outros, agora a intenção é aprofundar o conhecimento e
discorrer sobre assuntos ainda não discutidos. Para tal, continuamos contando
com a sua ajuda, através do nosso e-mail umbfeverdadeira@gmail.com.
Agradecemos
por tudo!
No ultimo fim de semana, eu estava
lendo o Sermão da Sexagésima, obra em que o Padre Antônio Vieira discorre sobre
vários assuntos, dentre eles a forma de “semear” a palavra de Deus, e tenta
encontrar a resposta do por que, naquele momento histórico, a população já não
acompanhava mais a pregação da Igreja como antes. Para que haja maior
conhecimento sobre a obra, sugiro que você leia o Sermão, mas eu gostaria de
fazer um breve comentário, e para tal tentarei retratar a ideia do autor da
forma mais sucinta e original possível.
A palavra de Deus percorre um
caminho da fonte (Deus) até seu destinatário final (o homem). Contudo, para que
essa mensagem chegue ela é feita em três fazes: A emissão da mensagem, por
Deus, a interpretação da mesma por quem semeia e, por fim, o destino final, o
povo, que ao ouvir a palavra, através de quem semeia, são doutrinados, em
direção ao Divino.
Sendo o processo citado anteriormente
o caminho que segue a Matéria (a mensagem divina), esse, em alguma etapa,
deveria conter o erro que resultaria na falta da palavra em meio ao povo. A
primeira parte (emissão) não poderia ser, pois o ser que a promove é divino,
tal qual a palavra que envia. O homem, destinatário final, também não poderia
ser, pois este deveria ser doutrinado, tendo em vista que é de sua natureza
buscar o Divino, através da reflexão, da crença e do erro. Se a culpa não é do
emissor, tampouco do destinatário, essa só pode ser do intermediário, no caso a
própria Igreja. Afinal, essa tem o dever de semear e garantir que seja aceita a
matéria, como a semente que é aceita pelo solo fértil. Se no momento a
população se encontrava “desvirtuada” seria por ineficiência da Igreja que,
através de métodos que não busca a adaptação e não garante a plena absorção da
Matéria.
Bem, esse foi um breve resumo da
Obra- que, diga-se de passagem, é linda-. Embora o momento estudado fosse
diferente do atual, podemos fazer uma analogia tanto à época como à religião. O
momento atual é acompanhado por nova visão do mundo e o “semeador” deve
acompanhar as visões, a religião tratada no Sermão é a Católica, o que não
impossibilita a adaptação ao meio Umbandista.
A
responsabilidade do médium, como intermediário.
“Orai e vigiai“, essas são as palavras que
alguns de nós ouvimos com frequência. A prece é uma forma de meditação, e vigiar
os próprios pensamentos, em busca de aproximar-se do ser equilibrado, livre de
qualquer sentimento oposto à Religião (orgulho, preconceito, inveja, e etc.).
Por que esses dois elementos são tão importantes? Se nós, médiuns, somos o
instrumento pelo qual os orixás se comunicam com os demais, nos encontramos na
mesma posição da Igreja na Obra anteriormente citada, o intermédio.
Ao ver deste mero escritor, que vos
dedica esse simplório texto, o médium deve ser como uma linha de conexão sem
interferências. Caso não medite sobre a sua condição e não vigie os seus
pensamentos, ele, consequentemente, tenderá a interferir na mensagem enviada
pelo Espírito de Luz. E quantas vezes não vimos este fato? O médium usa de seu
orixá, um ser mensageiro, de luz esclarecedora e imparcialidade absoluta, para
fins mesquinhos, como forçar a vontade alheia através de uma, suposta, sabida
mensagem.
Dificilmente um médium ficará
TOTALMENTE inconsciente quando incorporado. O caso se assemelha a água e óleo,
que, colocados em um único copo, tem contato, tornando-se uma só porção,
contudo não se misturam!
Essa visão sobre o objetivo do
médium explica, ainda que de forma simplória, o verdadeiro motivo do “por que
estudar sobre umbanda”. A compreensão do Livro dos Espíritos é tão importante
como a do Livro dos Médiuns. A posição intermediária exige que o médium seja
presente como ferramenta e ausente como formador de opinião, pois até mesmo a
amizade entre o médium e a pessoa, que veio a esse em busca de uma mensagem,
pode alterar a real Matéria dita pelo orixá, se não houver separação entre os
interesses do médium e o objetivo central da prática.
Mas
o que é necessário para a conduta imparcial do médium?
Acredito que não seja estranha a
prática de banhos de ervas (objeto já tratado por nós), acender velas
específicas (aos orixás ou ao anjo de guarda) ou, ainda, a leitura de livros
indicados pela Casa de Caridade. Bem, esses são os principais fatores para a
conduta do médium. Mas como um simples banho, um acender de velas ou um folear
de páginas refletem nas atitudes?
Alguns de nós já fomos orientados
sobre a necessidade de deixar os nossos problemas “da porta para fora” das
casas de orações. Essa simples frase tem um fundamento imenso. O fato de não
deixar que o seu cotidiano interfira na prática religiosa contribui,
diretamente, na qualidade da conexão que se tem com os guias espirituais. Tal
qual a preparação que se tem anteriormente ao trabalho, propriamente dito.
É comum termos a sensação, quando
iniciantes, de ansiedade logo que acordamos e sabemos que é dia de gira.
Afinal, não é qualquer dia, você irá ter contato com os Orixás. A forma com que
o dia se procede é totalmente diferente dos demais, e de tempo em tempo olhamos
para o relógio. Chega-se em casa, toma-se um banho de ervas, específicas para
aquela gíria, coloca-se a roupa própria e se pega as guias (missangas).
Quando, finalmente, chegamos no local do culto, cumprimentamos felizes, e,
antes mesmo de começar o trabalho, fazemos uma oração. A abertura é feita e
logo se tem contato com os orixás dos médiuns mais antigos. Uma mensagem é dada
e nos faz refletir, comparando-a com uma outra vista num livro ou já comentada
por outrem. A hora de incorporar chega e a cabeça vai à mil e as sensações são
diversas, principalmente no começo. A gira chega ao fim, mas sabemos que tudo
foi parte de uma grande experiência, e aguardamos a próxima, mais uma vez,
ansiosamente.
O que eu acabei de descrever,
acredito eu, foi vivenciado pela maioria dos médiuns, ainda que as situações se
limitassem à “semelhante”. Mas a pergunta ainda não foi respondida: Como tudo
isso pode influenciar? A preparação espiritual no dia, descrito no parágrafo
anterior, deixa o médium em estado neutro, pronto para executar a sua função
com harmonia com o meio, sem nenhuma carga negativa que o impeça. O banho de
ervas tem a função de equilibrar as energias, a vela específica para o orixá
cultuado no dia gera uma conexão preliminar e os ensinamentos cultivam a
doutrina, tornando o médium hábil, mentalmente, para conciliar e discernir suas
próprias ideias as mensagens.
O banho, as velas e os livros são
fatores importantes sim, mas os sentimentos solidários estão acima, são os
elementos que refletem a conduta do médium. Um médium com verdadeira vontade
solidária, não permite a sobreposição da sua vontade a mensagem do Guia, ainda
que a verdadeira mensagem seja oposta aos seus pensamentos, pois ele sabe que a
Fonte age em prol do bem, e aquela pessoa que veio a ele em busca do guia,
acreditou na sua capacidade mediúnica de transmitir a mensagem sem
interferência alguma, como se, de fato, a pessoa-médium não estivesse mais ali.
Hoje, como na época do Padre Antônio
Vieira, a obrigação de transmitir a mensagem está intrinsecamente ligada à
absorção do destinatário. Se o método deve atualizar-se na medida em que a
realidade muda, devemos nós, umbandistas, agir conjuntamente aos nossos guias
na medida das nossas funções. Porque nas diferenças entre as nossas e as
funções dos orixás encontram-se o encaixe perfeito, que ao ver deste mero
palpiteiro, tornando possível a prática da verdadeira Umbanda.